Neste ano, em julho, completei 66 anos. Destes, 51 anos (completos no último dia 19), dedicados ao jornalismo. Sem lembrar os quatro (dos 11 aos 15) que rui jornaleiro.
Já não sou tão cauteloso quanto no passado. Baixei a guarda e sobre isso um amigo, da Polícia Civil, alertou-me recentemente.
Nesta semana, por exemplo, uma pessoa totalmente desconhecida sentou ao meu lado, bateu uma foto e foi embora. Abismado, não reagi. Por isso resolvi escrever, aos poucos, parte da minha história. Não tudo, é claro, para não comprometer a vida de familiares e amigos.
Muitos já haviam solicitado que fizesse isso, mas a decisão foi tomada nesta sexta-feira, 22 de dezembro, data que marca 35 anos do covarde assassinato de Chico Mendes, ocorrido em Xapuri, no Acre.
Um dia antes, 21 de dezembro de 1988, estava voltando para Balneário Camboriú. No dia seguinte estava apresentando-me na Rádio Camboriú, quando o Luís Carlos Tigrão alertou: "Mataram um ecologista lá no Acre".
Rapidamente entrei em contato com alguns amigos (naquele tempo não tinha celular e a ligação da Telesc para a Teleacre via Embratel era super cara) e confirmei a morte de Chico Mendes.
Em função disso vou relatar, hoje, parte da minha vida no Acre, mais precisamente em Rio Branco, a Capital.
Em 1986 estava em Cuiabá (MT) na Rádio Vila Real quando, por indicação de um amigo fotógrafo, Miguel Martinez, fui convidado para ir para Rio Branco para trabalhar no jornal Folha do Acre, da Fundação da Amazônia Ocidental, comandada pelo então senador Mário Maia (PDT) que era candidato ao governo do Estado.
Fui exercer a função de copidesque (copy desk), ou seja, corrigia e alterava, se fosse o caso, os textos dos demais colegas de redação. Mas esse é um capítulo à parte que posso relatar em outra ocasião.
Com 29 anos e muita vontade de trabalhar, para preencher o tempo vago na parte da manhã, me apresentei e fui contratado pela Rádio e TV Universitária, a Rádio Capital, que pertencia a Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), de São Paulo.
Foi lá que conheci o Chico Mendes, ecologista e presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri. Ele estava acompanhado da Marina Silva, até então professora da Universidade Federal do Acre. Outro capítulo à parte.
Entrevistei ambos sobre a ampliação e pavimenta das BR´s 364, que liga à Cruzeiro do Sul, e 317, que termina em Assis Brasil. Os dois se posicionavam contrários.
Com uma mente sulista, argumentei que era um prejuízo incalculável para as comunidades interioranas que dependiam de barcos ou aviões para, por exemplo, buscar tratamento de saúde nas cidades, especialmente na Capital.
Na contra-argumentação eles diziam que, com a abertura e pavimentação das BR´s, esses moradores às margens das rodovias, seriam expulsos pelos "paulistas", que era o termo que eles davam para os grileiros do sul. E, infelizmente, foi isso que aconteceu, criando um grande bolsão de pobreza na periferia de Rio Branco e muita migração para outras regiões.
Mais tarde, já no comando da Comunicação Social da Prefeitura de Rio Branco, passei a frequentar o "Casarão", um restaurante e bar em que se reuniam intelectuais, músicos, jornalistas, radialistas e outros que gostavam de um bom papo e uma cerveja gelada. Acho que minha categoria de frequentador era essa última.
Lá, também aparecia o Chico Mendes, quando ele vinha para Rio Branco. Já tinha sido premiado mundialmente. Sempre humilde, chinelo de dedo, calça jeans e camiseta branca.
Ficava sempre em uma mesa em que também sentavam o engenheiro florestal Jorge Viana, mais tarde governador e senador pelo Acre, a Marina Silva, que em 1988 foi eleita vereadora pelo PT, e outros companheiros.
Uns 10 dias antes de voltar para Balneário Camboriú, encontrei o Chico Mendes, no mesmo Casarão da Dona Graça. Havia pedido licença da Comunicação Social da prefeitura e vindo para BC para colaborar na campanha do Pavan e do Aristo (mais por causa do petista, é claro).
Quando encontrei o Chico, tinha retornado à Rio Branco para acertar exoneração da prefeitura e outras pendências. Falamos por um bom tempo e ele falava da preocupação com o desmatamento e das ameaças que estava sofrendo e que policiais militares foram designados para a sua segurança pessoal.
Tanto é verdade que exatos, há 35 anos, ele foi emboscado e morto quando saia do "pau da gata" que é o que chamamos aqui de patente, ou casinha, que é um banheiro que fica nos fundos da residência.
Dois PM´s que faziam a segurança estavam na sala da casa, jogando Quina (dominó) com o Chico.
Escrevo num momento de lembrança. Mas prometo que em momento oportuno relatarei mais fatos, não apenas sobre esse episódio, mas também de outros que vivenciei durante minha carreira na imprensa.
EM TEMPO: Escrevi sob forte emoção e sem ninguém para corrigir. Você pode fazer nos comunicando.
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